domingo, 20 de junho de 2010

medida

como posso amar tanto, se essa sombra insiste em me mostrar tão só
depois que olhei pros vários lados que me cercam
procurei semelhantes e tinha muitos
mas eu, por ironia do destino, ou não, não era desses, nem daqueles
eu senti que não era ninguém.
de um lado tinha tanto, do outro nada
na hora de escolher, fui pelo que corria nas veias
pelo que pulsava mais forte, me despertava paixão
tenho proximidade e distância perante as mesmas coisas
sinto vazio, sinto cheio e tudo muda o tempo todo
tudo gira no meu peito, nas minhas mãos
as vezes fico tonta de tanto passear pelas realidades
quem dera sonhar acordada sem culpa de perder o rumo
nunca quis me sentir assim, mas sinto
gosto de ser aconchegante, simples, mesmo que furacão e caos
queria ser quente e calma como um ambiente iluminado por velas
tentativas frustradas de me encaixar aqui, acolá
e quase sempre eu me perdia de mim
talvez eu seja mesmo diferente
talvez eu seja tão igual a ponto de me irritar com isso
ou pode ser que eu apenas não saiba quem sou
o que sou ou do que sou feita...
mas a única certeza é que amor não me falta
por onde quer que eu ande, onde quer que eu chegue
o mundo sempre vai me dar casa e uma cama quente pra deitar
onde quer que eu durma, eu mesma me balanço e canto pra me ninar
entre o muito e o pouco dos meus mundos
sempre dei e recebi na medida exata pra ser feliz

terça-feira, 1 de junho de 2010

Infinito

Um dia depois da tristeza
O que sobrou?
Mais tristeza não poderia vir
Hematomas de um porre qualquer
Do pouco que forçava a lembrar
Dobrava o esforço pra esquecer
Esses desenhos no chão do quintal
Cobertos de poeira que adentram
Impregnam meus cabelos, até os pensamentos
Tantos soltos, que já não mais me apego a contar
Nem quero saber de seus passos
Até onde eles chegam, se me levam ou não
Bom seria bloquear as dúvidas
Delas, o quarto transborda em noites inteiras
As respostas também se tornaram dispensáveis
A partir do momento que me vi
De fora tudo é tão absurdo, pobre
Implodir as mentiras até que se tornem
Pequenas verdades de botequim
Há de se desconfiar de tudo
Tudo que seja repetido feito um mantra
Muito mais dos que fazem do amor
Um livro de auto-ajuda.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

fim

gosto é do cheiro da respiração
corpos perfumados naturalmente
mãos quentes e firmes
gosto do gosto que o suor tem
pernas entrelaçadas
Bocas imersas, navegantes
olhos que devoram alma, plexo, calma
devoram lenta e atentamente
tudo que tem no fundo
terrivelmente assustador e delicioso
como o fim do mundo

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ruido

ouvi um ruido leve, quase imperceptível
procurei pela casa inteira
sabia que enquanto não encontrasse
não conseguiria dormir
passei a noite em silêncio
como andava passando também os dias
vasculhei meus pertences
arrombei meu próprio diário
li bilhetes, cartas, numeros do meu próprio telefone
anotado em guardanapos de bar, vi tudo...
tudo aquilo que nunca entreguei a seus donos
talvez jamais terei o prazer de entregar
uns ficaram pra trás
outros ultrapassaram o limite e passaram
feito foguete ligeiro por cima de mim
tantos motivos, desculpas, lembranças
até que finalmente o ruido voltou
não havia mais onde procurar
além de aqui dentro
encontrei tanta coisa trancada
os ruidos eram gritos inquietos, saudades, fraquezas
que meu ego fazia questão de esconder
escondia de todos, de tudo
e hoje, só hoje percebi que me escondia até de mim.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A mesma

Eu sem você sou a mesma
Aquela de anos atrás
O mesmo sorriso, mesma roupa
Do velho armário da mesma mulher
Que de tempos pra cá
Refez o seu nome, seus planos
E os desencontros sempre hão de chegar
O medo de certa maneira
Queira ou não queira em vão
Será sempre um vizinho
Esperando na sala de estar
Uma pequena prova do seu paladar
Seus livros, seus discos e tudo que é seu
Sem saber que o que é seu já tem dono
Os rabiscos, os sonhos voltaram para aquela mulher
E pro velho armário jamais voltará.