quinta-feira, 27 de maio de 2010

fim

gosto é do cheiro da respiração
corpos perfumados naturalmente
mãos quentes e firmes
gosto do gosto que o suor tem
pernas entrelaçadas
Bocas imersas, navegantes
olhos que devoram alma, plexo, calma
devoram lenta e atentamente
tudo que tem no fundo
terrivelmente assustador e delicioso
como o fim do mundo

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ruido

ouvi um ruido leve, quase imperceptível
procurei pela casa inteira
sabia que enquanto não encontrasse
não conseguiria dormir
passei a noite em silêncio
como andava passando também os dias
vasculhei meus pertences
arrombei meu próprio diário
li bilhetes, cartas, numeros do meu próprio telefone
anotado em guardanapos de bar, vi tudo...
tudo aquilo que nunca entreguei a seus donos
talvez jamais terei o prazer de entregar
uns ficaram pra trás
outros ultrapassaram o limite e passaram
feito foguete ligeiro por cima de mim
tantos motivos, desculpas, lembranças
até que finalmente o ruido voltou
não havia mais onde procurar
além de aqui dentro
encontrei tanta coisa trancada
os ruidos eram gritos inquietos, saudades, fraquezas
que meu ego fazia questão de esconder
escondia de todos, de tudo
e hoje, só hoje percebi que me escondia até de mim.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A mesma

Eu sem você sou a mesma
Aquela de anos atrás
O mesmo sorriso, mesma roupa
Do velho armário da mesma mulher
Que de tempos pra cá
Refez o seu nome, seus planos
E os desencontros sempre hão de chegar
O medo de certa maneira
Queira ou não queira em vão
Será sempre um vizinho
Esperando na sala de estar
Uma pequena prova do seu paladar
Seus livros, seus discos e tudo que é seu
Sem saber que o que é seu já tem dono
Os rabiscos, os sonhos voltaram para aquela mulher
E pro velho armário jamais voltará.